sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Se essa rua fosse minha

Uma das metas da política é o que os filósofos chamaram de vida boa: justa e feliz para todos da polis. Na sociedade contemporânea, no entanto, a política muitas vezes não visa o bem comum, ao ponto de Estado e governo fundirem-se numa idéia de mera manutenção do poder (Maquiavel estava certo). Eu invisto uma parte significativa dos meus rendimentos para o pagamento da prestação da casa própria. Procurei um lugar tranqüilo para morar, numa rua com pouco tráfego, onde eu pudesse ficar sossegada para estudar, dormir ou curtir a família. Eis que senão quando, já há mais de um ano instalada no novo endereço, sei que a rua até então calma vai se tornar parte de um binário - uma rua que faz "par" com outra, cujo fluxo vai em só uma direção. A minha rua vai receber todo o movimento do Batel para o Bigorrilho. Ou seja, acabou o sossego. Fico pensando que no momento dessas decisões os planejadores urbanos (se é que param para planejar alguma coisa) entendem as ruas como meras passagens de carros e simplesmente não consideram que pessoas moram nessas ruas e que sua qualidade de vida ficará seriamente comprometida com a transformação da rua da casa em via rápida. Há vários exemplos disso em Curitiba: gente que teve seu cotidiano afetado pela racionalidade técnica, instrumental, que concebe a cidade como produto de coisas e não de pessoas. Todo mundo já entendeu que para melhorar o trânsito a melhor opção é investir em transporte público. Decisão sempre adiada. O metrô curitibano, por exemplo, vai ser resultado das pressões dos organizadores da Copa do Mundo, e não da necessidade de desestimular o transporte individual. E nisso tudo vejo a minha rua e a minha vida atrapalhadas por gente que simplesmente não pensou em ninguém.

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